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quinta-feira, 7 de julho de 2011

postheadericon Muita crise, pouco governo

Antonio Palocci demorou 23 dias para cair. Alfredo Nascimento levou só cinco para perder o cargo no Ministério dos Transportes. Foram duas baixas em um mês. Quatro cadeiras na Esplanada dos Ministérios já mudaram de dono em seis meses de gestão e um monte de ministros já se viu metido em encrenca. É muita crise para tão pouco governo.
Dilma Rousseff está se deparando com o fardo pesado que o ex-presidente Lula lhe legou. Há toda uma herança maldita deixada pela antiga gestão, com uma diferença fundamental: a atual chefe de Estado foi engrenagem importante da estrutura anterior. Também colaborou, portanto, para parir o monstro.
A criatura é fruto do modo PT de governar: não há um projeto para o país, mas um estratagema de poder, dedicado a perpetuar a exploração da máquina pública para fins partidários e interesses privados. Exatamente como foi no mensalão; exatamente como é no Ministério dos Transportes.
Agora, até a eleição da presidente está sob suspeita. Segundo a Folha de S.Paulo, parte dos aditivos (aumentos nos valores dos contratos) em obras tocadas pelo Dnit “foi feita para alavancar a candidatura presidencial de Dilma”. Quem diz isso é o exonerado, mas ainda no cargo, presidente do órgão, Luiz Antonio Pagot. Na campanha, ele recebia ordens, entre outros, de Paulo Bernardo, então ministro do Planejamento e hoje nas Comunicações.
Isto ajuda a explicar por que Dilma não tem força – nem interesse – suficiente para fazer uma escolha realmente adequada para ocupar o posto ontem deixado por Alfredo Nascimento. Terá de continuar compactuando com o PR, seus 40 deputados, seis senadores e uma ficha corrida de dar medo. Nesta lógica perversa, cuidar bem dos transportes brasileiros é o de menos.
“Dilma agiu desta feita com maior rapidez, mas de pouco adiantará a troca da cúpula se não houver disposição do Planalto para escorraçar a cultura quadrilhesca que se encastelou no ministério. Não é concebível que uma área da administração com tamanha importância estratégica para o desenvolvimento do país esteja sequestrada pelo que há de pior nos hábitos políticos brasileiros”, defende a Folha de S.Paulo, em editorial.
Nascimento se foi envolto em denúncias de corrupção, com uma família notável por rápidos e bem-sucedidos negócios, como mostra O Estado de S.Paulo. O PR, que ele preside, tomou o ministério de assalto logo no início do primeiro governo Lula e lá vem praticando a farra do boi com o dinheiro público.
Num único ano, o orçamento das obras ferroviárias engordou R$ 4,5 bilhões ou 38% e empreendimentos rodoviários inscritos no PAC tiveram sobrepreço de R$ 10 bilhões, como mostrou a revista Veja. No Dnit, quatro em cada dez contratos têm os valores inflados, revela hoje O Globo.
As ligações do PR com as principais contratadas pelo Ministério dos Transportes é umbilical. Segundo o Valor Econômico, dos R$ 27,5 milhões arrecadados pelo partido no ano passado, 79% vieram de empresas que prestam serviços para a pasta. Já Nascimento recebeu, em 2010, quando saiu derrotado da disputa pelo governo do Amazonas, doações de 40 empreiteiras – quatro anos antes, só uma contribuíra para sua campanha ao Senado.
Numa demonstração de quanto o governo petista depende do distorcido esquema, o mesmo PR deverá continuar comandando o Ministério dos Transportes. Mudam as cabeças, remanescem os tentáculos. Em nota oficial divulgada no sábado, tão logo vieram à tona as denúncias, os “republicanos” escancararam seu modus operandi.
“Despachos e reuniões de trabalho” entre representantes do partido, do ministério e seus órgãos vinculados “buscam garantir benfeitorias federais para as regiões representadas por lideranças políticas do PR, (...) são regulares”. Ontem, sobre a turbulência atual, o secretário-geral e manda chuva do PR, Valdemar Costa Neto, declarou a O Globo: “Quando eu achava que já tinha vivido tudo nesta República, acontece de novo. Mas tudo passa!”
Nos Transportes, o PR chegou a requintes, como mostra o Valor. Em 14 de março, o agora ex-ministro assinou a portaria nº 36. Por ela, o controle sobre os recursos de todos os órgãos e entidades vinculadas ao ministério, incluindo o Dnit, foi concentrado em seu gabinete. É o domínio total sobre boca do caixa e a certeza de que o duto por onde escorre dinheiro público continuará jorrando.

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