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sexta-feira, 22 de julho de 2011

postheadericon A agonia da Petrobras









O Conselho de Administração da Petrobras reúne-se hoje para definir o plano de investimentos da companhia para o período até 2015. A maior empresa do país encontra-se numa encruzilhada, travada pela ingerência política do governo federal e assolada pela desconfiança dos investidores. O futuro está turvo como petróleo.
Esta é a terceira vez que o assunto vai à discussão no conselho, presidido pelo ministro Guido Mantega. Desde maio, a Petrobras tenta que seus conselheiros deem aval a seu plano – que inicialmente previa investimento de US$ 260 bilhões nos próximos quatro anos e foi, por determinação do governo, reduzido para US$ 224 bilhões.
Segundo a Folha de S.Paulo, sob pressão da equipe econômica, hoje a estatal deve “anunciar cortes e principalmente mudar a premissa que sustenta sua capacidade de investimento: os preços dos combustíveis”. Para conter a inflação, o governo não quer que a Petrobras eleve seus preços, que já estão bastante defasados em relação às cotações do mercado internacional.
Este tem sido um dos fatores que mais tem golpeado o desempenho da empresa. A Petrobras vive hoje uma situação incomum para quem teve tantas conquistas recentes – como a descoberta das gigantescas reservas do pré-sal – e domina algumas das tecnologias de ponta no mundo no setor de energia.
No início de julho, o valor de mercado da Petrobras caiu, pela primeira vez desde 1999, abaixo do seu patrimônio líquido. Ou seja, as ações da companhia passaram a valer em bolsa menos do que nos livros de registro contábil, indicando que não há perspectivas de ganho à vista para o investidor.
Analistas dizem que a Petrobras está sofrendo o ônus de ter se transformado, na era petista, em joguete político nas mãos do acionista controlador – a União, com 48,3% de participação. A empresa não consegue cobrar o preço justo pelos principais combustíveis (gasolina e diesel) que fabrica, mete-se em investimentos micados, muitas vezes para satisfazer interesses políticos, e, com isso, não desfruta das boas perspectivas do setor de energia.
Em decorrência destas dificuldades, a Petrobras tem visto seu valor de mercado encolher dia após dia. Neste ano, a queda já beira R$ 70 bilhões, o equivalente a um Banco do Brasil ou a duas vezes e meia o tamanho da BRF-Brasil Foods, fusão da Sadia com a Perdigão. Desde janeiro, a queda das ações aproxima-se de 20%.
Comparada com seus principais pares nas Américas, a Petrobras tem hoje a pior relação valor de mercado/patrimônio. Entre as companhias brasileiras, a empresa encontra paralelo apenas em outra estatal: a Eletrobrás, que chega a ter uma correlação duas vezes pior.
Entre os maus negócios que a Petrobras tem sido obrigada a tocar está a construção de quatro megarefinarias. É fato que o país ainda é muito dependente da importação de derivados de petróleo e precisa perseguir a autossuficiência, que não passou de peça de marketing do governo Lula.
Mas é igualmente verdadeiro que algumas das bilionárias refinarias previstas não se justificam economicamente. A atividade é, aliás, considerada um mau negócio hoje no mundo: companhias integradas de petróleo americanas e europeias estão vendendo suas plantas e concentrando-se em exploração. No caso da Petrobras – que, pela lei, obrigatoriamente terá de lançar-se como operadora do pré-sal – reunir esforços seria ainda mais imperativo.
Um destes projetos polêmicos é a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Nascida para ser construída em associação com a PDVSA, deve acabar sendo tocada apenas pela Petrobras, já que os venezuelanos encresparam com a escalada do valor do investimento – que passou de US$ 4,5 bilhões para US$ 15 bilhões, com apenas um terço do empreendimento concluído – e ensaiam pular fora do negócio.
A Petrobras é um patrimônio dos brasileiros, incluindo aqueles que nela investiram seu futuro, na forma das economias do FGTS. A agonia da companhia está intimamente relacionada à sua péssima governança nos anos recentes. O resultado é que nossa gigante do petróleo tem tido de se desdobrar para carregar nas costas o perdulário Estado gerido pelo PT. 


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