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sexta-feira, 6 de maio de 2011

postheadericon Carta de Formulação: Quanto vale a Vale‏


Roger Agnelli deixa o comando da Vale no próximo dia 21, mas fatos conhecidos ontem simbolizam os acertos e desacertos dos interesses em jogo que acabaram por afastá-lo da empresa. A maior mineradora do mundo divulgou um lucro recorde no primeiro trimestre, confirmando o sucesso da estratégia que vem perseguindo nos últimos anos. A Vale chegou aonde chegou fazendo tudo o que o governo do PT gostaria que ela não fizesse.

No último balanço com Agnelli no comando da companhia, o lucro líquido da empresa alcançou R$ 11,3 bilhões até março. Foi o maior da história de uma companhia aberta no Brasil para um primeiro trimestre. O ganho cresceu em todas as bases de comparação, chegando a ser 292% maior que o lucro atingido no mesmo período do ano passado. Pelo padrão contábil em dólares, o aumento foi ainda mais expressivo: 325%, para US$ 6,8 bilhões.

Nunca a Vale lucrou tanto num único trimestre. Foi o coroamento da gestão de dez anos com Agnelli à frente da companhia. Preveem analistas que o resultado no segundo trimestre será maior ainda. Isso por causa dos mecanismos empresariais que a Vale adotou. “Antes a Vale subsidiava a siderurgia mundial”, diz um analista ouvido por O Globo.

Agnelli deixa o posto daqui a 15 dias depois de ter se recusado a seguir diretrizes que o PT achava mais adequadas para a empresa. Entre suas decisões, esteve demitir 1,3 mil trabalhadores – durante crise em que mais de 700 mil pessoas foram postas na rua por empresas em todo o país – e exportar menos minério e mais aço, cujo preço hoje é francamente decadente em todo o mundo.

“Adicionar valor ao produto não significa adicionar valor à empresa e ao Brasil. Adicionar valor ao produto pode só representar menos valor ao acionista e menos desenvolvimento à empresa. Qualquer país pode investir em siderurgia; é só captar recursos para montar uma unidade e comprar minério. Mas poucos conseguem exportar matéria-prima. O recurso estratégico é justamente o minério”, analisa Sérgio Lazzarini, professor do Insper, na Folha de S.Paulo de hoje.

O lucro recorde foi divulgado no mesmo dia em que a Vale levou ao mar o primeiro cargueiro de uma frota de 19 embarcações encomendadas junto a estaleiros coreanos e chineses. Anunciada em 2008, a decisão de comprá-los no exterior, o que envolve US$ 2,35 bilhões, foi duramente criticada pelo então presidente Lula. Foi outro dos motivos de atrito entre Agnelli e o petismo.

O navio entregue ontem, o “Vale Brasil”, é o maior para minério do mundo. Saiu por US$ 110 milhões e foi feito na Coreia. A Vale preferiu os coreanos porque quis? Não, por uma questão de sobrevivência.

A Vale tentou que o navio fosse feito no Brasil, como gostaria Lula. Para tanto, procurou o Estaleiro Atlântico Sul – uma das vedetes da propaganda nacionalista petista – em Pernambuco e ouviu que o mesmo naviomade in Brazil sairia por US$ 236 milhões e só poderia ser entregue em 2015. A Vale agradeceu e partiu pra luta; comprou-o na Ásia, pela metade do preço e com metade de prazo para entrega.

Brasileiro, o projeto de engenharia do “Vale Brasil” permite triplicar a capacidade de carregamento e acelera a operação. A economia gerada equivale a cortar dez de um total de 45 dias necessários para levar minério à China. Isso é crucial para a competitividade da Vale, já que o trajeto a partir da Austrália – por onde suas concorrentes BHP e da Rio Tinto escoam seu minério – demora cerca de 15 dias.

A decisão não trouxe benefícios apenas para a Vale. A empresa reduziu seus custos com fretes e pôde transferir os ganhos para os preços do minério que vende. Fez isso firmando contratos de longo prazo. Assim, a balança comercial brasileira engordou mais US$ 4 bilhões nos últimos dois anos.

Decisões empresariais são para ser tomadas assim, com base no que pode render mais. Ainda mais num mercado como o que opera a Vale, altamente competitivo e altamente sujeito a volatilidades – como ontem ficou claro, mais uma vez, quando o preço das principais commodities despencou, revertendo uma contínua ascensão de meses.

É escandaloso que, deixando um legado como este, Agnelli tenha sido defenestrado do comando da Vale. Se dependesse do petismo, provavelmente a mineradora não estaria hoje comemorando os resultados que alcançou. Estaria, talvez, explicando ao mercado por que seus custos com fretes foram altos ou por que teve de pagar tantos tributos – que teriam sido impostos à companhia como retaliação por ter contrariado as vontades de Lula e do PT.

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